quarta-feira, 9 de maio de 2012


Teologia e Eclesiologia


A FRAGILIDADE DO APOSTOLADO MODERNO

João Rodrigo Weronka


É curioso observar como algumas igrejas evangélicas tem facilidade em aceitar novidades. E é triste verificar a falta de empenho dos cristãos em observar as Escrituras e analisá-las com sensatez e cuidado. Triste também é saber que poucas são as igrejas que motivam seus membros ao estudo sistemático da Bíblia, ao aprofundamento teológico, a formação de grupos de estudo e discussão sobre as doutrinas cristãs e que verifiquem na Bíblia se as coisas realmente são como é pregado. Aliás, não é pecado analisar se os ensinos e a pregação estão em conformidade com as Sagradas Escrituras (Atos 17.10-11). 
Dentro desta miscelânea de revelações e novidades que temos observado, é importante expressar-se sobre o caráter das revelações: 1) as revelações nunca deverão ser colocadas acima da Bíblia. A Bíblia é a palavra final e autoridade máxima, já que se trata da inerrante Palavra de Deus; 2) Se a revelação está em desconformidade com a Bíblia, descarte imediatamente tal revelação. Deus não é Deus de confusão (1 Coríntios 14.33) As experiências pessoais não podem ser colocadas acima das Escrituras Sagradas, pois estas já contêm a revelação do propósito de Deus ao homem. 
Nestes tempos de tantas novidades, algo chama atenção de maneira muito preocupante na história recente da igreja: trata-se doApostolado Contemporâneo, ou Restauração Apostólica. Muitos têm se levantado como apóstolos nestes dias. Apóstolos ungindo apóstolos e criando uma hierarquia apostólica. Alguns pastores que, talvez por se sentirem menores que seus colegas de ministério que foram ungidos como apóstolos, ungem-se a si mesmos e se auto-proclamam apóstolos. Não há fundamento para o chamado ministério apostólico contemporâneo pelo simples fato do mesmo não possuir respaldo bíblico. 

O termo

Segundo o Dicionário Bíblico Universal, o termo apóstolo "significa mais do que um 'mensageiro': a sua significação literal é a de 'enviado', dando a idéia de ser representada a pessoa que manda. O apóstolo é um enviado, um delegado, um embaixador" (Buckland & Willians, p. 35) . A Bíblia de Estudo de Genebra também aplica esta descrição, dizendo que apóstolo "significa 'emissário', 'representante', alguém enviado com a autoridade daquele que o enviou" (Bíblia de Estudo de Genebra, p. 1272).

A frágil sustentação

Aqueles que defendem esta frágil posição, têm se sustentado principalmente na má interpretação do texto de Efésios 4.11 para o uso do ministério apostólico para nossos dias. O texto de Efésios 4.11 diz: "E Ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres".

A refutação

As regras mais simples de hermenêutica nos ensinam que os textos sagrados nunca devem ser tirados de seu contexto. E no contexto da epístola de Paulo aos Efésios, temos no capitulo 2 o texto que prova que este ministério não mais existe. Antes de citar o texto, é importante refletir: quando um prédio é construído, o que é feito primeiro? As paredes ou a fundação da obra? É obvio que todo alicerce, toda fundação é feita em primeiro lugar. Não é possível construir as paredes e no meio das paredes fazer a fundação. Efésios 2.19-20 diz: "Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular".
Cristo é a pedra angular e os fundamentos foram postos pelos apóstolos e profetas. Os evangelistas, pastores e mestres são os responsáveis pela construção das paredes desta obra. Como bem explica Norman Geisler "De acordo com Efésios 2.20, os membros que formam a igreja estão 'edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas'. Uma vez que o alicerce está pronto, ele não é jamais construído novamente. Constrói-se sobre ele. As Escrituras descrevem o trabalho dos apóstolos e dos profetas, quanto à sua natureza, como um trabalho de base" (Geisler, p. 375).
A Bíblia registra o uso do termo apóstolo a outros personagens. Russel N. Champlin explica que "há também um sentido não técnico, secundário, da palavra ´apóstolo´. Trata-se de uma significação mais lata, em que o termo foi aplicado à muitas outras pessoas, nas páginas do NT. Esse sentido secundário dá a entender essencialmente ´missionários´, enviados dotados de poder e autoridade especiais" (Champlin, p. 288, v. 3). Nesse sentido o Ap. Paulo chamou a alguns irmãos por apóstolos seguindo este termo não técnico:
- Tiago, irmão do Senhor (Gl. 1.19)
- Epafrodito (Fp. 2.25)
- Apolo (1 Co 4.9)
- Andrônico e Junias (Rm 16.7)
No contexto de Efésios 4.1, Paulo não estava se referindo a estes homens, mas sim aos 12, Matias (que substituiu Judas Iscariotes), e a si mesmo. Estes compunham, juntamente com os profetas, o fundamento da igreja (Efésios 2.19-20). 
Existiam duas exigências fundamentais para que um apóstolo fosse reconhecido para tal função: 
1) Ser testemunha ocular da ressurreição de Jesus Cristo (Atos 1:21-22; Atos 1.2-3 cf. 4.33; 1 Coríntios 9.1; 15.7-8); 
2) Ser comissionado por Cristo a pregar o Evangelho e estabelecer a igreja (Mateus 10.1-2; Atos 1.26). 
Assim como Matias, que passou a integrar o corpo apostólico por ser uma testemunha, Paulo, que se considerava o menor, por ser o último dos apóstolos, contemplou a Cristo no caminho de Damasco (Atos 9.1-9; 26.15-18), onde ocorreu o início de sua conversão. Ou seja, ambos preenchem os pré-requisitos para tal função. No entanto, os que se intitulam apóstolos em nossos dias não se encaixam nos padrões bíblicos que validam o apostolado. 
É interessante que, enquanto o Ap. Paulo refere-se a si mesmo como "o menor dos apóstolos" (1 Coríntios 15.9), os atuais apóstolos tem por característica a fama e a ostentação do título. Tudo é apostólico! A unção é apostólica! Os eventos são apostólicos! As músicas são apostólicas! Nem de longe se assemelham com a humildade dos apóstolos bíblicos. Eventos, cultos e seminários se tornam mais interessantes quando a presença do Apóstolo Fulano é confirmada. É um chamariz: "venha e receba a unção apostólica diretamente do Apóstolo Beltrano". Tais apóstolos têm se colocado como super-crentes, uma nova e especial classe da igreja, a elite cristã dos tempos modernos. Hoje existe de tudo um pouco neste balcão mercantil da fé: Apóstolo do Brasil, Apóstolo da Santidade, Apóstolo do Avivamento e até mesmo o mais popular apóstolo brasileiro, chamado por muitos por "Paipóstolo". 
Existem hoje ministérios com características apostólicas, no sentido das missões (envio) e no estabelecimento de igrejas. No entanto, isso não faz de ninguém um apóstolo nos padrões bíblicos. A forma como Wayne Grudem explica esse fato é muito esclarecedora: "Embora alguns hoje usem a palavra apóstolo para referir-se a fundadores de igrejas e evangelistas, isso não parece apropriado e proveitoso, porque simplesmente confunde que lê o Novo Testamento e vê a grande autoridade ali atribuída ao ofício de 'apóstolo'. É digno de nota que nenhum dos grandes nomes na história da igreja - Atanásio, Agostinho, Lutero, Calvino, Wesley e Whitefield - assumiu o título de 'apóstolo' ou permitiu que o chamassem apóstolo. Se alguns, nos tempos modernos, querem atribuir a si o título 'apóstolo', logo levantam a suspeita de que são motivados por um orgulho impróprio e por desejos de auto-exaltação, além de excessiva ambição e desejo de ter na igreja mais autoridade do que qualquer outra pessoa deve corretamente ter". (Grudem, p. 764). 
É equivocado aplicar o termo "apóstolo" para ministros contemporâneos. A Bíblia de Estudo de Genebra concluí que "Não há apóstolos hoje, ainda que alguns cristãos realizem ministérios que, de modo particular, são apostólicos em estilo. Nenhuma nova revelação canônica está sendo dada; a autoridade do ensino apostólico reside nas escrituras canônicas" (Bíblia de Estudo de Genebra, p. 1272). 
Tamanho o fascínio que os crentes possuem por essa Restauração Apostólica, gera preocupação nas lideranças mais sóbrias. Vale citar as sábias palavras de Augusto Nicodemus Lopes: "Há um gosto na alma brasileira por bispos, catedrais, pompas, rituais. Só assim consigo entender a aceitação generalizada por parte dos próprios evangélicos de bispos e apóstolos auto-nomeados, mesmo após Lutero ter rasgado a bula papal que o excomungava e queimá-la na fogueira." (Lopes, cf. blog do autor).

Conclusão

Os ofícios que o Novo Testamento expõem para a igreja, para aqueles que compõem sua liderança, são: Apóstolos, Pastores (ou Presbíteros, ou Bispos - já que todos os termos representam a mesma função/ofício - Tito 1.5-7; Atos 20.17,28) e Diáconos. Esta Restauração Apostólica não encontra subsídio bíblico ou histórico, portanto, levando em conta este contexto, e considerando principalmente que Paulo foi o último apóstolo, conclui-se que não existem apóstolos em nossos dias. Cabe a igreja de nossos dias, exercer suas funções sem invencionices e modismos, seguindo o puro e verdadeiro Evangelho. 

Referências:

Buckland, AR. e Willians, L. Dicionário Bíblico Universal. São Paulo: 2001. Editora Vida
Bíblia de Estudo de Genebra. São Paulo: 1999. Editora Cultura Cristã
Geisler, N. e Rhodes, R. Resposta às Seitas. Rio de Janeiro: 2004. CPAD. 
Champlin, RN. O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo, v. 3 e 4. São Paulo: 2002. Hagnos
Grudem, W. Teologia Sistemática. São Paulo: 1999. Edições Vida Nova. 
AGIR - Agência de Informações Religiosas - www.agirbrasil.com
Augusto Nicodemus Lopes - http://tempora-mores.blogspot.com

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

AJUSTANDO EXPECTATIVAS - Pr. Nelson Bomilcar



O sucesso da ação pastoral bíblica não é medido por números ou avaliações quantitativas, mas sim, pela fidelidade e integridade no exercício da vocação e chamado ministerial.        


Viajando pelo Brasil nestes últimos anosvamos acolhendoaqui e ali, o compartilhar sofrido ou alegre de muitos pastores queestão com as mãos no aradotentando servir ao Senhorà igreja e ao Reino de Deus de forma fiel e perseverante durante anos. São ministros do Evangelho que insistem em cuidar de ovelhas em sua formação espiritualnum quadro desestimulante edesfavorávelcolaborando, com uma ação pastoral profunda e relevantepara reverter uma expectativa imersa na “cultura deresultados” impessoal e estruturalpresente nas instituições eclesiásticas.
Essa cultura mais institucional do que orgânica alimenta e espera sempre que o pastor ou líder de uma comunidade cristãdirecione suas ações no sentido do chamado “crescimento da igreja”. Um crescimento que desprezana maioria das vezes, aqualidade relacional, a integridade pessoal e a espiritualidade genuína, simples e verdadeira das ovelhas – aquela onde Jesus Cristo, como nosso Salvador, Pastor e Senhorsempre deveria ser o referencial e alvo de um estilo de vida coerente com osvalores e fundamentos do Evangelho que ele elaborou com sua vida e seus ensinos.
Essa expectativa da “cultura de massa” presente em nossa sociedade contemporânea – a expectativa do sucesso discutível, enganoso e efêmero – tem esvaziado, intimidado e inibido o conteúdo de uma ação pastoral efetiva, que busque proporcionar ferramentas e recursos para que as ovelhas, em sua formação espiritual e serviço, cultivassem o amor a Deus em primeiro lugar,sem esquecer o amor  ao próximo na família, na comunidade da fé e na sociedade; um amor responsável, que não despreza o próprio cuidado e crescimento pessoais.
Mas pastores são tentados continuamente a abandonar e deixar de lado, pelas pressões de sustento, das expectativas dos homens e da construção de uma “carreira” bem sucedida, o coração, essência e fundamento da ação pastoral legítima. O sucesso da ação pastoral bíblica não é medido por números ou avaliações quantitativas nos rebanhos e igrejas, mas sim, pela fidelidade e integridade no exercício da vocação e chamado ministerial. Do Senhor, e somente do Senhor, teremos o correto reconhecimento de tudo que fazemos e faremos no cuidado do rebanho. Claro que é bom obtermos reconhecimento do que estamos fazendo na obra e em nossa ação pastoral – mas, na maioria das vezes, tal reconhecimento não virá através de nenhum tipo de demonstração. Esta é a realidade de muitos em seu trabalho pastoral.
Como pastores, somos mais cobrados do que qualquer outra pessoa, ainda mais numa Igreja que nega parte do seu discurso histórico, deixando de estimular, dar importância e buscar que todos os crentes vivam o “sacerdócio real de todos os santos” – e que superestima os clérigos, pastores e bispos em sua atuação, poder e trabalho. Trata-se de situação absurda, triste e contraditória, mas infelizmente encontrada por todos os cantos em nosso país. Tal peso e expectativa são massacrantes e precisam ser repensados e colocados corretamente, e com sabedoria, em nossa formação pastoral e no conteúdo curricular de nossas instituições de ensino teológico. Se não fizermos isso, continuaremos a ver tantas comunidades esvaziadas em seu conteúdo, missão e visão, aumentando a evasão de membros e o segmento dos chamados “sem igreja”.  Claro, esta não é a única causa do esvaziamento nas comunidades cristãs – mas sem dúvida, trata-se de uma das mais importantes.
Precisamos corresponder, sim, às reais expectativas do Senhor quanto ao trabalho pastoral. O Senhor quer ver seus líderes e pastores confessando que amam a Jesus, como servos e amigos de Deus, confirmando esse amor em obediência e devoção dedicadas. Eles devem ainda cuidar de suas famílias e cumprir de maneira fiel e perseverante sua vocação ministerial, usando e dando crescimento ao dom e à capacitação recebida do Espírito Santo, como o Senhor mesmo desejou, conforme Paulo escreve à igreja em Éfeso.
Ajustar expectativas quanto à ação pastoral é tarefa necessária e urgente, para que todos possam assumir corretamente seuspapéis e funções no Corpo de Cristo, que é a Igreja. Igreja quecomo expressão visível de Jesus, está no mundo para servir aoPai e às pessoas, transformar realidades e fazer discípulos em todas as nações, manifestando a glória do Senhor aqui na terracomo sal e luz até que Jesus volte.
Pr. Nelson Bomilcar

sábado, 29 de outubro de 2011

UMA NOTICIA ENCANTADORA


Somos em tudo dependentes do Senhor. Mas há uma situação em que essa dependência é muito maior. É quando estamos estranhamente confusos, complicados e abatidos, com intrincados problemas emocionais.


Em uma circunstância assim, soa como encantadora notícia a declaração de que o Senhor “apruma todos os prostrados” (Sl 145.14) ou a declaração de que “o Senhor levanta os abatidos” (Sl 146.8).

Ainda que possam e devam ajudar, o alívio nem sempre vem da farmacologia e da psicoterapia. Às vezes o problema é complexo demais e insistente demais. É preciso recorrer a Deus por meio de orações precisas, tais como: “cura-me”, “descomplica-me”, “desamarra-me”, “liberta-me” e assim por diante. Quanto mais precisa for a súplica, maior será a sua eficácia. As orações devem ser tão perseverantes como as daquele amigo importuno da parábola de Jesus, que só parou de bater à porta de seu vizinho quando este o atendeu (Lc 11.5-8).

Quando entre nós, Jesus não se preocupou apenas com a salvação, apenas com o exorcismo, apenas com a multiplicação de pães e peixes, apenas com a cura de cegos, mudos, paralíticos e leprosos. Ele se preocupou também com aqueles que carregam dentro de si cargas demasiadamente volumosas. Certa feita, Jesus pronunciou as seguintes palavras: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei” (Mt 11.28). Em outra ocasião, Ele declarou: “Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados” (Mt 5.4). O cuidado especial que Jesus dispensou à mulher samaritana (Jo 4.7-30), à mulher adúltera (Jo 8.1-11) e a Pedro, depois da tríplice negação (Jo 21.15-17), encoraja qualquer transtornado de espírito a buscar sua ajuda. Ele via as multidões e compadecia-se delas, “porque estavam aflitas e exaustas como ovelhas que não têm pastor” (Mt 9.36).

Jesus sabe o que é tristeza, sabe o que é angústia, pois Ele as teve ali no Getsêmani: “A minha alma está profundamente triste até à morte” (Mt 26.38). Daí a conclusão da Epístola aos Hebreus: “Não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas, antes, foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado” (Hb 4.15). Portanto, é possível achegar-se confiadamente ao trono da graça, a fim de receber misericórdia em ocasião oportuna (Hb 4.16).


terça-feira, 14 de dezembro de 2010

NÃO QUERO MAIS SER EVANGÉLICO!

NÃO QUERO MAIS SER EVANGÉLICO!

Voltemos a ser adoradores do Pai, pois são estes que Ele procura e não profissionais da fé

Por: Ariovaldo Ramos

"Irmãos, uni-vos! Pastores evangélicos criam sindicato e cobram direitos trabalhistas das Igrejas". Esse, o título da matéria, chocante, publicada pela revista Veja de 9 de junho de 1999 anunciando formação do "Sindicato dos Pastores Evangélicos no Brasil".

Foi a gota d'água! Ao ler a matéria acima finalmente me dei conta de que o termo "evangélico" perdeu, por completo, seu conteúdo original. Ser evangélico, pelo menos no Brasil, não significa mais ser praticante e pregador do Evangelho (Boas Novas) de Jesus Cristo, mas, a condição de membro de um segmento do Cristianismo, com cada vez menor relacionamento histórico com a Reforma Protestante - o segmento mais complicado, controverso, dividido e contraditório do Cristianismo. O significado de ser pastor evangélico, então, é melhor nem falar, para não incorrer no risco de ser grosseiro.

Não quero mais ser evangélico! Quero voltar para Jesus Cristo, para a boa notícia que Ele é e ensinou. Voltemos a ser adoradores do Pai porque, segundo Jesus, são estes os que o Pai procura e, não, por mão de obra especializada ou por "profissionais da fé". Voltemos à consciência de que o Caminho, a Verdade e a Vida é uma Pessoa e não um corpo de doutrinas e/ou tradições, nascidas da tentativa de dissecarmos Deus; de que, estar no caminho, conhecer a verdade e desfrutar a vida é relacionar-se intensamente com essa Pessoa: Jesus de Nazaré, o Cristo, o Filho do Deus vivo. Quero os dogmas que nascem desse encontro: uma leitura bíblica que nos faça ver Jesus Cristo e não uma leitura bibliólatra. Não quero a espiritualidade que se sustenta em prodígios, no mínimo discutíveis, e sim, a que se manifesta no caráter.

Chega dessa "diabose"! Voltemos à graça, à centralidade da cruz, onde tudo foi consumado. Voltemos à consciência de que fomos achados por Ele, que começou em cada filho Seu algo que vai completar: voltemos às orações e jejuns, não como fruto de obrigação ou moeda de troca, mas, como namoro apaixonado com o Ser amado da alma resgatada.

Voltemos ao amor, à convicção de que ser cristão é amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos: voltemos aos irmãos, não como membros de um sindicato, de um clube, ou de uma sociedade anônima, mas, como membros do corpo de Cristo. Quero relacionar-me com eles como as crianças relacionam-se com os que as alimentam - em profundo amor e senso de dependência: quero voltar a ser guardião de meu irmão e não seu juiz. Voltemos ao amor que agasalha no frio, assiste na dor, dessedenta na sede, alimenta na fome, que reparte, que não usa o pronome "meu", mas, o pronome "nosso".

Para que os títulos: "pastor", "reverendo", "bispo", "apóstolo", o que eles significam, se todos são sacerdotes? Quero voltar a ser leigo! Para que o clericalismo? Voltemos, ao sermos servos uns dos outros aos dons do corpo que correm soltos e dão o tom litúrgico da reunião dos santos; ao, "onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu lá estarei" de Mateus 18.20. Que o culto seja do povo e não dos dirigentes - chega de show! Voltemos aos presbíteros e diáconos, não como títulos, mas, como função: os que, sob unção da igreja local, cuidam da ministração da Palavra, da vida de oração da comunidade e para que ninguém tenha necessidade, seja material, espiritual ou social. Chega de ministérios megalômanos onde o povo de Deus é mão de obra ou massa de manobra!

Para que os templos, o institucionalismo, o denominacionalismo? Voltemos às catacumbas, à igreja local. Por que o pulpitocentrismo? Voltemos ao "instruí-vos uns aos outros" (Cl 3. 16).

Por que a pressão pelo crescimento? Jesus Cristo não nos ordenou a sermos uma Igreja que cresce, mas, uma Igreja que aparece: "Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras, e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus. "(Mt 5.16). Vamos anunciar com nossa vida, serviço e palavras "todo o Evangelho ao homem... a todos os homens". Deixemos o crescimento para o Espírito Santo que "acrescenta dia a dia os que haverão de ser salvos", sem adulterar a mensagem.


sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010